Certamente que isto é uma grande parte da nossa dignidade... que possamos conhecer e que, através de nós, a matéria possa conhecer-se a si própria; que, começando com protões e electrões, saídos do princípio dos tempos e da vastidão do espaço, possamos começar a entender; que, organizados como estão em nós, o hidrogénio, o carbono, o nitrogénio, o oxigénio, esses 16 a 21 elementos, a água, a luz do Sol- todos eles, tendo-se transformado em nós, possam começar a entender o que são, e como se tornaram nisso. George Wald (Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia) (1964)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mitos À La Carte



Verdades e mentiras sobre os alimentos
De onde vêm as regras alimentares? Do que sabemos verdadeiramente sobre nutrição? Por que será que os cientistas divulgam dados tão contraditórios? As gorduras saturadas são nocivas? Há alimentos que causam doenças? Nem estas nem outras interrogações obtiveram, até agora, uma resposta inteiramente satisfatória. O problema já é antigo. No inicio da década de 1980, o biofísico Harold Morowitz classificou a nutrição como uma “quase-religião”, e descobriu que todos os estudos efectuados eram “sobre os efeitos num grupo reduzido de pessoas, por volta de 15, ou em animais com dietas monitorizadas durante períodos que variavam entre alguns dias e poucos meses”. Ou seja, não havia uma investigação a longo prazo, com grupos numerosos, e essa ausência dava origem a crenças generalizadas que nunca tinham sido verdadeiramente postas à prova. Por exemplo, qual destes produtos acha que eleva mais o nível de açúcar no sangue: um gelado, uma batata ou uma fatia de pão? Claro que quase todos escolheriam o gelado. Todavia, um artigo da revista Science já demonstrava, há mais de vinte anos, que a batata e o pão eram mais glicémicos. No entanto, embora a ciência da alimentação tenha agido com inépcia mais do que uma vez, sabemos bastante sobre os nutrientes que devem integrar um regime alimentar equilibrado…
Diversas experiências com pessoas obesas demonstraram que podem viver mês e meio à base de água, vitaminas e minerais, pois extraem as calorias da gordura acumulada, com a consequente perda de peso. Todavia, trata-se de uma situação insustentável a longo prazo, pois o corpo necessita que lhe forneçam outras substâncias.
Os suplementos alimentares estão cheios de pseudociência, como demonstrou Dan Hurley, jornalista do The New York Times especializado em temas de saúde, após analisar os dados recolhidos ao longo de 23 anos pelos Centros de Controlo de Venenos dos Estados Unidos, junto dos quais mais de 1,6milhões de pessoas tinham denunciado, desde 1983, reacções adversas a vitaminas, produtos de ervanária e outros complementos nutricionais. É preocupante que os media tenham dado tanto crédito a esse tipo de produtos.
Os produtos que exibem o rótulo “agricultura biológica” ou “orgânica” chamam-nos a atenção no supermercado porque pensamos que são mais saudáveis, dado que “não contêm porcarias”. Porém se quisermos ser verdadeiramente meticulosos, nem o tomate da horta da Avó passaria nos controlos de segurança alimentar que os governos impõem às substâncias sintéticas adicionadas aos alimentos.
Richard Hal, jornalista especializado nestas questões, analisou, num artigo publicado na Revista Nutrition Today, os ingredientes utilizados para elaborar a ementa de um restaurante de luxo, de acordo com os critérios de segurança em vigor nos Estados Unidos. O resultado foi demolidor: apenas se salvaram os palmitos. Cenouras, cebolas, azeitonas, melões, lagostins, batatas, manteiga, salsa, pão, brócolos, queijo, bananas, maçãs, laranjas, café, chá, leite, vinho, cerveja…Nem a água mineral teria passado numa operação de fiscalização, se as mesmas regras fossem aplicadas aos alimentos que chamamos “naturais”.
A solução para uma alimentação correcta reside na totalidade do que ingerimos, e não em empanturrar-se de produtos com Ómega-3, óleos vegetais ou suplementos vitamínicos. O nosso organismo está habituado a lidar com frutos, verduras, peixe e carnes vermelhas, na devida proporção. Parece que a mais equilibrada é a dieta mediterrânica, pelo que não devíamos trocá-la por outra, baseada em produtos manufacturados, ao estilo norte-americano. É melhor seguir o conselho de Michael Pollan: “NÃO COMPRE NENHUM ALIMENTO QUE A SUA AVÓ NÃO CONSIGA RECONHECER”.
Para ler na íntegra este artigo: Super Interessante 142 (Edição Portuguesa)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...